Li, dias atrás, esse poema que julguei ser perfeito para mim e para aqueles meus iguais no amor aos livros. Bom, hoje eu quis oferecê-lo, como homenagem, ao bibliófilo José Mindlin.
ODE AMATÓRIA
Poema de Alexei Bueno
Meus livros amados,Para o imenso, a viagem
Como trepadeiras
Sobem, apinhados,
Paredes inteiras.
Alargam seus flancos
Por cômodos, quinas,
E erguem-se em barrancos
Fabricando esquinas.
Lombadas, brochuras
Me olham das estantes,
Marroquins, nervuras,
Discretos, berrantes,
E neles me espiam
Gregos e sumérios,
Almas que extasiam,
Monstros deletérios.
Quinze mil amantes,
Bem embaixo, em cima,
Livro, o agora e o antes,
Palavra sem rima.
Que vida haveria,
Reles, pouca, porca,
Sem tal companhia,
Taça que se emborca.
Fólios, incunábulos,
Línguas e cidades,
Semblantes, vocábulos,
Desastres, vaidades,
Bulas, manuscritos,
Toda a espécie humana
Em grilhões escritos
Numa caravana
Que cruza o deserto
Nosso, soledade,
O longínquo, o perto,
O agora, a saudade,
De mãos dadas, nisto,
Filho, pai e avô,
Juntos Jesus Cristo
E o Doutor Petiot.
Sarabanda estática,
Vertical loucura,
Viagens, numismática,
Budismo, pintura,
E os autores todos,
Vivíssimos, mortos,
Ancestrais rapsodos,
Místicos absortos,
E entre os que pisaram
Nas poentas paragens
Os que em almas aram,
Tipos, personagens,
Todos, todos juntos,
E os florões, e espelhos,
Colofões defuntos,
Frontispícios velhos...
Que teria eu sido
Sem tal ebriedade,
Meu portão fendido
Para a eternidade,
Da alegria humana,
Sem mais dor, voragem
Que nos unge e irmana?
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