Ele sonhava em fazer de seus achados um roteiro. Tal qual um
mapa com o qual se pudesse operar cidades. Uma vez, achou, em bairro que pouco
distava do centro, um ninho de passarinho avassalado de intempérie. Deu nisso. Pôs-se a esquadrinhar não só
pássaro fêmea de olhar perscrutador sob o ninho arremetido ao
chão, mas os hábitos vizinhos.
Onde eles?
Fios coloridos de outrora engrenagens cibernéticas, parte do
que fora pompom de roupa de criança, cabelos e pelos de animais variados,
díspares galhinhos, um anel plástico que
selara a cachaça mais barata, gripa e
palhinhas da estação passada, rotas
folhas, impressos arruinados pela inclemência
de tempos urgentes, paina amarfanhada e
outros restos menos prováveis se juntavam. Isso, mais penugens arrancadas ao dono, compunha o
intricado berço agora coroado de vazio.
Ao largo, buzina de
carro, ônibus freando para passar lombada, canos de escapes rotos, estridências, conversas cruzadas; a cunhada, a cunhada da esposa, a vó, a bisa, o pai, o filho. Ruídos de família. O menino, recém-saído da fralda, rodeava-o,
convencendo-o de que, sob a réstia de luz, valia a pena plantar grãos de milho
num canto secundário do terreno financiado.
Ele ali, vizinho,vizinhos, um
olho no ninho, outro no filho com a mão esbugalhando semente. Dentro, fora, o sagaz silêncio.