Já viram? A traça quando sai de lugar em que se deixou estar marca um vão. Imprimi aí um vácuo. É quase um decalque. Mas não é como casulo de bicho da seda ou borboleta, tampouco como casca de cobra, porque devorou. Se fez pondo a sucumbir em vez de dar vida. Não gosto de traça. Essa inútil bobeira. Esse ser ignóbil atodo tempo se fingir morto. E se ela está onde nada pode corroer, que lhe importa? Trama um jeito de, em largando ali seu visgo, fazer remanescer algo de si. Quanto a mim, que gosto de tantos seres, gosto da palavra. A palavra, como a vida, também se faz de ocos. E é no oco que eu quero estar. Quero saber o que há de frescor nisso que já não é mais. Porque aquilo que se abandona, permanece. É como casca de ferida que criança adora arrancar. Já disseram que criança faz isso é porque adora seu dodói. Os adultos também adoramos nossos doer e arrancamos cada casquinha de ferida a seco, para ver de novo o sangue invadir a pele. Porque somos viscerais. Sem volteios. Queremos saber como se faz para botar vida na crosta seca, para sentir a dor presente, que já não é a mesma, porque uma dor nunca imita a si. Por a nu a ferida quase sã é arrancar uma palavra de seu torpor.