terça-feira, 5 de agosto de 2014

Uma ideia de palavra

Já viram? A traça quando sai de lugar em que se deixou estar marca um vão. Imprimi aí um vácuo. É quase um decalqueMas não é como casulo de  bicho da seda ou  borboleta, tampouco como casca de cobra, porque devorou.  Se fez  pondo a sucumbir em vez de dar vida.  Não gosto de traça. Essa inútil bobeira. Esse ser ignóbil atodo tempo se fingir  morto.  E se ela está onde nada pode corroer, que lhe importa? Trama um jeito de, em largando ali seu visgo,  fazer remanescer algo de si.  Quanto a mim, que gosto de tantos seres,  gosto da palavra. A palavra, como a vida, também se faz de ocos. E é no oco que eu quero estar. Quero saber o que há de frescor nisso que já não é  mais. Porque aquilo que se abandona, permanece. É como casca de ferida que criança adora arrancar. Já disseram que  criança faz isso é porque  adora seu dodói.  Os adultos também adoramos nossos doer e arrancamos cada casquinha de ferida a seco, para ver de novo o sangue invadir a pele.  Porque somos viscerais. Sem volteios. Queremos saber como se faz para botar vida na crosta seca, para sentir   a dor presente, que já não é a mesma, porque uma dor nunca imita a si.  Por a nu a ferida quase sã é arrancar uma palavra de seu torpor.


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