A qualquer hora do dia, vaga, leio-lhe e perscruto-lhe. Entre idas e
vindas um pensamento toma-me de assalto: de restos e esboços também se faz um personagem de si. Da junção de quase nada útil se insinua uma obra.
Entre distraído e absorto, chega-se repentinamente a essa dança fugaz.
Então, se houver palco, haverá ato.
Ler requer várias investidas, à maneira da escrita. E é só de um
ventre vigoroso que
pode nascer a escritura. É como no ato
amoroso: uma ação não desfaz a outra, como vacilos e pensamentos
inesperados são bem-vindos.
Ler não requer só ferramentas e aparatos racionais: atravessamentos de
opiniões, voluptuosidade, ecos, carícias, sussurros longínquos, recuos, tensão
viril, infusões passionais, olhares
atônitos, qualquer luz lúgubre compõem
a cena.
São sempre plurais as leituras, especialmente quando passíveis de intervenções perturbadoras, aprazíveis, avassaladoras.
Se assim for, quando
concluídas, findam? Ou seus efeitos reverberativos permanecerão?
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