Eu era criança quando descobri que os loucos pegam por atalhos. Depois, Manoel de Barros me ensinou de novo.
Eu odiava a ideia de não ter minha dor respeitada. Porque sempre repetiam, em tom de pecha, quando eu tinha feridas simples, como um espinho à pele: “ai, cuidado porque vai sair a barrigada”. Uma dor de criança é assim: visceral. Então, sim, era uma dor capaz de pôr tudo a perder: a possibilidade de brincar, de ser feliz, de aprender, de estar.
Eu ganhei um presente sem nunca tê-lo recebido, e por isso sonho até hoje com presentes inexistentes.
Eu já era adolescente quando recusei-me a receber uma carta de amor. E fiquei para sempre imaginando como seria receber uma carta de amor.
Em adulta fiz escolhas, e, de todas, as mais imperecíveis são as da memória. Aquilo que se ama com a memória, diz Adélia Prado, ama-se eternamente.
Quando não estou para nada, luto e brinco de apaziguar memórias, mas quem consegue?
3 comentários:
Ah, as memórias... Tão doces, tão ácidas...
Beijo, querida!
"A memória aniquila o tempo: conduz à unidade aquilo que parece ter acontecido em separado."
Léon Tolstoi
Hi Silvia,
Are you still blogging?
Soon it will be four years!
Warm wishes,
Carol
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