Ela abominava aquelas arranjos artificiais decalcados na geladeira amarela da vizinha. Ela sempre teve decalcomanias em casa, mas e onde a coragem de usá-las.? O mesmo se dava com as cartelas de adesivos
decorativos. E o que dizer do jogo de lençol que ganhou na década de 90? Lá, erguido na última
prateleira do armário, juntando marca amarelada no vinco. Cadê coragem de
usar lençol tão branco?
Hoje, filhos
crescidos, netos crescidos, cabelos brancos, um presentinho ou outro guardado
ainda na embalagem e um resfriado que não cede. Família vem no pacote, pensa. Ovo de páscoa da data passada, ainda
embrulhado, rato roeu... Farelo bordado de
papel reluzente caído do bolso do único terno roto pendurado no armário.
Isso. Esse fiozinho de existência. Esta vida comezinha. Essa certeza de sentimento, fininha, qual papel laminado de ovo de páscoa.
Nas decalcomanias, lê
em Walter Benjamim, as cores flutuam
aladas sobre todas as coisas.
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