Jovem, eu visitei cidades e aprendi a percorrê-las e percorrendo-as pude amar suas geografias.
Adolescente, deixei meus pais para morar na cidade e demorei pra entender que um barulho de carro era um barulho de carro e não o anúncio de uma visita inesperada em meio às lides da vida no campo.
Mas era infância quando:
Tive minha confiança solapada pela primeira vez foi porque, a pretexto de me mostrar algo, meu irmão pediu que eu abrisse muito os olhos. Assim o fiz e ele os encheu com quirera fresca, causando em mim imensa dor. A dor de um amor traído.
Eu me machucava e ouvia sempre a mesma frase: “Mas o que é que você foi fazer?” E isso fez influência em meu modo de entender causa e efeito.
Ganhei uma irmã mais nova e eu tinha certeza que ela brincava com minha coleção de latinhas Royal mesmo estando ainda na barriga de minha mãe.
Eu tinha só um vestido, amarelo serpenteado de bolinha brancas. Minha mãe o lavava com zelo. Mas um dia ela o estendeu no varal e, com zelo, a vaca o comeu.
Eu ganhei meus primeiros sapatinhos vermelhos e um deles foi engolido pelo ralo do tanque logo na primeira lavada. A torrente de água fugidia deixou-me só, como só, restou um sapatinho vermelho.
3 comentários:
Que bom que é cescer: que venham os vestidos amarelos de todas as cores muitos pares de sapatos vermelhos, nenhum ralo, nenhuma vaca...só a confiança cega ainda nos persegue.
Bjo
Déia
Sil eu vejo o teu olhar em cada palavra, em cada frase... Eu não morei no campo mas consigo sentir o cheiro do mato... Agora que me inspirei em ti, vou tentar escrever a primeira história da Trilhas. Me ajude.
beijos
Silvia, eu não canso de ler este post. É tão simples, tão surpreendente, tão inspirado, tão doloroso, tão bonito - parece a vida.
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