terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

De engenho e gelosia

Eu juro que às vezes  acho que sei quem sou. Mas, que assaz lampejo.
Hoje eu seria simplesmente um engenho, desses que em minha infância tínhamos em casa para moer cana no inverno.
Ou poderia ser uma rama de mandioca, porque esse caulezinho tem colmos à maneira da cana-de-açúcar (coisa que eu também já gostei de ser), mas seus nós apenas se insinuam, criando um relevo na escultura-tronco.
Sem sair da categoria vegetal, eu facilmente seria uma esponja, com suas ranhuras, seus vazios, dutos e trajetos.
Em um dia para mineral, emprestaria palavras de Rosa e diria querer ter a luminosidade dura do diamante.
Nesse preciso instante, que já não é, eu seria um tacho daquilo que chamávamos marmelada, sem que a receita contivesse um marmelo sequer. Porque eu sempre achei bonito ver como mudava a profundidade, a cor,  o aroma, a luminescência, a textura de laranjas, cubos de abóbora e mandioca cozidas ao melado quente.
Em estado de coisa eu poderia ser uma gelosia ou um portão de estrada na roça, com seus vãos e nervuras. E daí eu chamaria um Cronópio para me ajudar a contar-lhes como ultrapassar um portão sem abri-lo. Fato que muito os agradaria, suponho. Mas isso já é conversa para outro dia.

Um comentário:

Deisily de Quadros disse...

Somos muitos num só. Você é sim tudo isso. Saudades das nossas conversas. Beijo.