domingo, 26 de fevereiro de 2012

De terreno e de texto

       Escrever um texto assemelha-se ao ato de fazer uma roça. Pois,  quando se chega em um terreno, primeiro há que se percorrê-lo todo, tomando nota de onde estão suas envergaduras e de para onde  vão suas inclinações, em elas havendo. Caso  ele não as tenha, por plaino de feitio ou amainado, então semeia-se à mão cheia. Mas em ele sendo rústico, de relevos irregulares ou íngremes, então se estuda com mais cautela como proceder a semeadura. Para um texto quase  se pode seguir o mesmo princípio: considera-se o terreno, ou tu mesmo,  as ferramentas que se tem e as primeiras idéias, seminais. Depois de tê-las percorrido, é chegado o momento de descobrir como arremessá-las ao solo chão do papel branco,  (ou da tela, mais factível para os tempos que correm).  Escolhidas as primeiras palavras, então sim, vai se adubando com outras ideais próprias ou lidas e tomadas daqui e dali. Quando o solo é fértil, ou quando a ideia é fértil, quase que se toma tudo do chão próprio. Mas em se tratando de terreno extenuado ou inexperiente, buscar suplementos será um requisito.  Citar os outros em um texto autoral é parecido com adubar o terreno, injetá-lo de vigor e ousadia, renová-lo, acrescendo-lhe artificialmente daquilo que é fundante a um terreno, dar-lhe consistência.  Solo adubado, sementes lançadas e enfim...  o demais do trabalho é do colono, do escritor. Ele, manuseando as ferramentas escolhidas com rigor, dará estatura ao texto e fará de sua escritura/cultura a própria representação de si. Eu acho que é assim que eu tento escrever um texto.

Um comentário:

Michèle disse...

Linda metáfora!

Acho que nós nos construimos da mesma maneira pela qual você escreve um texto... Ideias de cá e de lá, ferramentas, paisagens e solos, caracteristicas tipicas à semente (sendo estas um pouco menos complexas que um ser humano) e muitos, mas muitos "outros" em toda essa história....

Beijos!