terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Dos objetos perdidos

        Nessa estação, em terras do Norte, é muito comum encontrar luvas perdidas.
        Eu sempre fico intrigada diante de uma luva perdida. Porque ela está aí, ao léu. Ela, que outrora aconchegou e protegeu, agora virou um trapo encharcado e sujo. Se olharmos bem adivinharemos as cores que lhe compunham. Outras vezes veremos que alguém já se deteve diante dela e, solidário, recolheu e expôs esse que agora virou objeto do esquecimento. Ou seria do desaviso? E logo a luva perdida é bandeira do incauto sobre um mastro improvisado. Haverá o dono de recuperá-la? Escolherá novamente aquele caminho?
         Há quando a luva que se encontra ser objeto de perda recente e ela ainda terá todo o glamour que lhe cabe. Disso se pode desconfiar pelo status da matéria, pelo ares inaugurais da sua queda desenhada na superfície ou se pode adivinhar por suas beiras ainda quentes. Ela, aí ao chão, dá mostras de despojo e altivez.
         Para que serve uma única luva? Que desígnios lhe reserva o destino? Ultrajada pelo tempo, pela condição, pela ideia de inutilidade e falta, restará desprezada? E a alegria do dono ao reencontrá-la? Como se mede?
        Pra que serviria uma estatística de quantas luvas perdidas são reencontradas? Para que serviria um inventário do destino das luvas perdidas ou então das luvas que restaram solitárias? É provável que não servisse pra nada! Mas como é vasto e adorável o escopo dessa categoria!

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