domingo, 27 de julho de 2014

Para ler

A qualquer hora do dia, vaga,  leio-lhe e perscruto-lhe. Entre idas e vindas um pensamento toma-me de assalto: de  restos e esboços  também se  faz um personagem de si.  Da junção de quase nada útil se insinua uma obra. Entre distraído e absorto,  chega-se repentinamente a essa dança fugaz. Então,  se houver palco, haverá ato. 
Ler requer várias investidas, à maneira da escrita. E é só de um ventre  vigoroso   que pode nascer a escritura. É   como no ato amoroso: uma ação  não desfaz  a outra, como vacilos e pensamentos inesperados  são bem-vindos.
Ler  não requer só ferramentas e  aparatos racionais: atravessamentos de opiniões, voluptuosidade, ecos, carícias, sussurros longínquos, recuos, tensão viril,  infusões passionais, olhares atônitos, qualquer  luz lúgubre   compõem a cena.  
São sempre plurais as leituras, especialmente quando  passíveis de intervenções  perturbadoras, aprazíveis, avassaladoras.
Se assim for,  quando concluídas, findam? Ou   seus   efeitos reverberativos permanecerão?

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