quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Aquela Mãe, Aquela Filha

        Aquela Mãe e aquela Filha raramente passeavam a sós. Pouco ficavam juntas embora estivessem sempre lado a lado. Porque a Mãe tinha muitos filhos e afazeres. Porque a Filha entendeu que as tarefas da Mãe também eram suas e pôs-se a trabalho.
       Quando a Mãe contou que elas, só as duas, fariam uma viagem para visitar parentes, a Menina tomou aquele momento inaugural como a chance de ficar vadiando palavras e colos.
       Chegando à cidade, depois de abraços efusivos por saudades latentes, as duas mulheres, Irmã e Tia, saíram para passear e quem cuidou da Menina foi um completo estranho, tido por seu irmão. Tentaram brincar em uma escada cercada por paredes formando um corredor obscuro.
        Nessa primeira ausência da Mãe a Filha chorou intermitentemente.  Para a Filha criança as duas mulheres demoraram muito a voltar e  Ela precisava tanto que sua Mãe chegasse para ordenar-lhe o mundo.
        Quando enfim retornaram a primeira revelação à Filha, sobrinha, foi:
         - “A tia comprou-lhe uma boneca linda, diferente de todas as outras”. Conceito que a menina não poderia entender, pois que não tinha nenhuma. “Mas os lugares e passeios foram tantos e a excitação tamanha que a perdermos”.
         - “E não voltaram para procurar?”, replicou a Menina sofregamente.
         - “Até arriscamos... Mas e tanta rua? E toda gente?”
         De modo que a Menina sabe que um dia ganhou uma boneca sem nunca tê-la recebido. Tem esta certeza e outras poucas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sil, tu me fazes chorar a cada momento que entro neste blog. O que eu me pergunto é: onde estava escondido tudo isto? Numa gaveta? Só na gaveta do coração? Tu precisas urgentemente, além do blog, colocar estas sensibilidades a circular pelo mundo para emocionar mais gente.
beijo grande, parabéns!