segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Abusada, eu profanarei

         De tempos em tempos abuso de palavras. Eu odeio abusar de certar palavras. Tão logo me apercebo violando palavras, já não quero mais usá-las. Porque aí elas já viraram minhas muletas e palavra nenhuma é vil a ponto de sofrer tão malfadado fim.
      Estranhamente eu acho justo e divertido que alguém repita insistentemente uma gíria. Talvez porque às vezes há palavra que não me larga, forçando-me a escolhê-la.
         Mas, pretensiosamente almejo pronunciar um dia: Eu profanei a língua! Um dia eu hei de capturar a língua aí, em seu estado virginal, descarnado, qual corpo aberto e ferida exposta. E então, vou deitar e rolar sobre as palavras e corpos. Pedalarei máquinas de coser palavras e bordarei tecidos novos, e figurarei babados intransigentes, e abortarei palavras empregadas toscamente e gozarei em cada célula de palavra recém-nascida.
         Eu profanarei. E a isso hei de chamar o meu avesso, a minha prosa, o meu verso.

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