Eles vinham um a um. Eles vinham em bandos. Eles se serviam do grão recém-colhido, do alimento reservado para a entre safra, do queijo que curava à prateleira no frescor do porão, de restos. Eles deixavam seus rastros, seus odores e pêlos. Eles enchiam a noite com seus guinchos e chiados e corridinhas de corte à fêmea. Eles invadiam o paiol, a estrebaria, o chiqueiro e a casa com seus ares de urgência. Traziam ninhadas de filhotes tão frágeis que não guardavam sinal da sinistra criatura que os originara ou nas quais se transformariam em breve. Se perseguidos caberiam em qualquer vão. Se irados se embrenhariam em toda fresta. Se acuados investiriam contra qualquer matéria. Se amedrontados espalhariam sua urina ácida e inconfundível. Se famintos roeriam quaisquer corpos. Eram ratos, incontável número deles, que enchiam de horror e náusea aqueles tempos que os outros ousaram chamar de nossa infância.
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