Para Ela domingo sempre foi nostálgico. Para Ele nada era necessário e tudo desprezível: o riso, o choro, o luxo, o gozo, o perfume, o batom, as folgas. Só andanças solitárias, costumeiramente feitas por carreiros e por dentro de sangas saltando por entre pedras e poças d´água, ouvir causos de bêbados, fazer briques de bois e longas conversas com bugres enquanto amarravam cestos, mascavam fumo, tragavam cachaça do alambique e cuspiam no chão, enchiam-lhe a existência.
Naquele domingo, Ela preparou a comida e com deleite Ele se fartou. Para entorpecer o dia, e sem outro motivo, e sem mais motivo, o homem buscou vinho de seu porão. Bebeu, avermelhou. Depois do vinho, pegou o machado e encarou a árvore imponente, antiga, ali na borda da bica d´água e disse:
- Vou deitá-la ao chão.
- Mas por que homem de Deus? Estremeceu a mulher.
Ele não disse palavra. Ela chorou até, disfarçou, fingiu beber água. Mas o que não se pronuncia é sempre maior. A duros golpes o homem abriu uma fenda na terra e logo depois na raiz grossa. Exauriu-se. O gume afiado era em si próprio que cortava. Exauriram-se todos. A árvore resistiu lacrimejando resina ocre avermelhada. Nos três a esfoladura. A causa pode ser diferente, mas a dor é igual; ou a dor é diferente e a causa igual.
Ele guardou o machado no porão e deitou-se sob a árvore. Ela se penteou e saiu para passear.
Nunca mais falaram no assunto.
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