A cana-de-açúcar tinha um não sei o que de mistério aos meus olhos infantis. Recolhíamos e replantávamos suas mudas em vez de suas sementes. Suas folhas cortantes protegiam colmos doces. Entre um colmo e outro havia um nó, rígido e pouco palatável. Depois de mascada ou espremida no engenho resultava em bagaço, dono de uma textura que não parecia estar contida na cana antes rija por cheia de sumo. O bagaço podia alimentar o gado ou servir de cama e cobertor para o terreno berço da própria cana.
Acho que a vida da cana-de-açúcar fez morada em mim. Minhas vontades são folhas ásperas e perturbadoramente cortantes. Tenho felicidades tão curtas quanto um colmo. Entre uma felicidade e outra sou nó que não desata. Em estado de bagaço ainda absorvo mil sentimentos alheios. Pereço. Sirvo de alimento a mim mesma e estarei doce no próximo inverno.
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