Quando em estado natural Ela gosta de contar estrelas e perder-se fazendo isso. Tenta delimitar algum espaço na imensidão brilhante e formar figuras ou escolher um relevo luminoso e traçar um caminho.
Quando em estado descomedido Ela gosta de colecionar momentaneamente um punhado de sementes e depois jogá-las ao léu. Gosta de carregar pequenos caules de flores de um lado a outro. Gosta de romper vagem e ver as sementes pularem loucas e de algum modo quer segurar todas e, sabendo da impossibilidade, deixa-se estar nesse momento.
Quando em estado de criança Ela teria dito: “Mãe, eu gosto de brincar comigo; eu me dou tão bem comigo.” E a mãe riu com desdém desavisado, intuindo que aquela era uma centelha isolacionista que viera para ficar.
Quando em estado vacilante Ela trava batalhas a cada dia ou sentimento estranho que se aproxima e ambiciona ser salvo. Ela então quer ser alegre, é triste. Quer migalhas de bom humor, mas bebe da própria bílis.
Quando em estado bruto Ela é capaz de achar bonita uma caixa de cimento fresco sob à luz da manhã.
Ela quer aprender viver destas coisas que não sabe dizer.
Um comentário:
Silvia, eu estou na Argentina, numa cidadezinha que se chama san Ignacio e faz 40 graus. Estou, é claro, dentro do quarto que tem aire como dizem os argentinos e me deliciando no teu blog. Fico sempre impressionada com a tua forma de escrever, tu dizes coisas profundas de uma forma leve e me remete às minhas vivências da infância. É muito lindo tudo. Tu és uma escritora maravilhosa. Beijos
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