quarta-feira, 9 de abril de 2014

Canteiro de obras


Ideias para um texto e nenhuma   soberana o suficiente. E a  encomenda?  Pra quando é mesmo? – pergunta ao  imaginário editor  de si.  As ferramentas ali, o canteiro de obra aberto, colher de pedreiro, ruído de serras segmentando  treliças e vergalhões, cinto de segurança mantendo-a suspensa na armação de aço, escavadeiras rompendo o solo amalgamado. Onde se pisa quando o chão rui? Onde se acomoda sentimento quando a pergunta não  dá trégua? Esse visgo imaginário sempre foi sua  viga mestra? Ela ali, tentando escrever, o texto aberto. O  líquido verde do nível acumulado em uma das extremidades,  forçando-a a perceber que o  escrito  pendia para um lado.  Confusa,  entre um ruído e outro,  pensa: o aeroporto é só um não-lugar. As reformas atestam isso. Tudo imagem da infância. Não é licito usar imagem da infância? E se a família não gostar? E se nem parecer que foi mesmo? Pega  formão,  plaina, picão,   serrinha  a quatro mãos, pois nunca se sabe o que demandará um texto. Às vezes, o que ele exige são armas de fogo, outras... Um texto é isso. Matéria em estado bruto. Tal qual sentimento inominado.

Um comentário:

Andréa disse...

Eu teria um alter ego de nome Silvia Pandini, tranquilamente.