Mostrando postagens com marcador cidade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cidade. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A cidade nem liga

        Chove, inunda, constrói, desfaz, pinta, pixa, suja, limpa. A cidade nem liga.
        Transeuntes chegam e partem e enchem-lhe os vãos. A cidade nem liga.
        Mesmo em dias em que vivemos de sensações difusas, e quando a cidade ela própria se mostra diversa, constata-se.
        De volta à cidade, o forasteiro que estivera ausente pressente o inquérito:
        “É bom voltar?” Pergunta-lhe o curioso.
         “Nada como voltar!” Impõe-lhe o mais taxativo.
         “De volta à vida real...” Insinua outro, a espicaçar-lhe a memória.
       E assim, de frases prontas e cheias de efeito e de encontros inesperados, se vai fazendo a volta do andarilho sobre a terra.
       A cidade nem liga.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

A geada na cidade e a geada no campo

       Nas  terras do norte é assim: é de manhã e os habitantes tentam resgatar seus carros cobertos pela geada. É meio do dia e lá está ela intacta. É fim do dia e a geada segue a esmo para as galerias pluviais. Tudo nessa geada é excêntrico: sua cor, seus modos e os lugares que encontra para ficar existindo. Talvez porque a geada na cidade pareça fora do lugar, pois que perde um pouco seu status natural por não encontrar solo macio no qual se aconchegar. Na cidade, as ruas e telhados e todos os artefatos humanos interpõem-se em seu caminho e ela fica tendo que achar vãos por onde estar. Acaba que ela encontra uma ou outra beira, depressão ou meio-fio e ali fica, congelada, abismal, quase suicida.
       A geada no campo, como a vida no campo, tem qualquer coisa de mais real.