quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um grão

Era um longo caminho entre a Semente e a tulha, entre a tulha e o prato.

Primeiro era arar a terra, o que, naquele tempo, fazia-se com arado puxado pelo Boi e conduzido pelo Homem. Depois o Homem e a Mulher plantavam o Grão. Esperavam longo tempo entre brotar a semente, crescerem as folhas, verem surgir um pé de milho com a espiga, o pendão. Quando era palha seca o milho podia ser colhido sob um sol pálido no inverno geado.

Depois era a colheita. E requeria que o Homem e a Mulher separassem pendões e espigas, reunindo-as no monte. Daí elas seriam recolhidas ao cesto pelo Homem, a Mulher e a Criança. Do cesto eram lançadas à carroça e, finalmente, levadas ao paiol. No paiol as espigas eram classificadas, destinando o melhor Grão para ser Semente no próximo plantio e para a alimentação. O restolho preenchia o Animal.

Para debulhar o milho, o Homem, a Mulher e a Criança usavam parte de suas horas noturnas, após àquelas dispensadas ao campo. Debulhado o milho, os grãos seguiam para a tulha e, ensacados, podiam ir ao moinho, suportado pelo Homem ou pelo Animal.

De volta à Casa o milho seria recebido por olhos gulosos, bocas cheias de apetites, corpos extenuados. Seria cozido pela Mulher em fogo brando e caldeirão de ferro. Retirado do fogo, esfriaria tanto quanto a paciência da ânsia resistisse. Então seria talhado a barbante e repousaria na boca do prato, na fome do Homem, da Mulher e da Criança.

Entre o bagaço  no campo, entre os vãos da tulha, entre as pedras do moinho, ficavam restos do Milho. Espigas perdidas, Grãos abandonados, Farinha cobiçada, Pó fugidio, que alimentavam o Homem, a Mulher e a Criança.

Assim era no Tempo do Antigamente.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Regina disse...

Muito bem dito, ou melhor, escrito!
Chorei de emoção... parece que faz tanto tempo que vivemos isso. A vida é longa, meu Deus!
Vai daí (escrevendo) que eu vou daqui (tietando).
Beijo.