quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A vida não chega

        Fernando Pessoa fingiu seus heterônimos para fazer caber em algum lugar aquilo que não lhe cabia mais em si.
       Clarice Lispector deu voz a seus personagens femininos para fazer todas as perguntas impossíveis de serem respondidas, mas indispensáveis para se viver uma vida.
       Luigi Pirandelo em “Um, Nenhum, Cem Mil” nos diz do quão intrigante são as percepções que os outros fazem de nós, como o são também as impressões e certezas que temos a nosso respeito, para por fim notar que nenhuma delas parece coincidir exatamente com o que somos.
       Julio Cortazar inventou seus “Cronópios e Famas” para fazer a alegoria dos tipos humanos e suas atitudes diante da vida.
       Ítalo Calvino desenhou “ As Cidades Invisíveis” pelas quais podemos viajar e sentir melhor esse lugar onde habitamos.
       Elias Canetti iluminou e absolveu sua biografia criando “A língua absolvida” e “Uma luz no meu ouvido”.
       Cada um escreve sobre o modo como olha pelo vão da vida. E a lista de exemplos termina infinita porque, como afirmou Fernando Pessoa, “A literatura é a melhor prova de que a vida não chega.”

Um comentário:

Jordana disse...

"Cada um escreve sobre o modo como olha pelo vão da vida". Lindo, amiga, lindo texto! Quero te enviar alguns textos meus sobre o que tenho visto nestes vãos... e desvãos...
Beijo